
Porém, confesso que pra mim as coisas não foram muito nessa linha. Por mais que a profissão do meu pai – caminhoneiro autônomo - pudesse parecer para as outras crianças, que conviviam comigo, um tanto quanto mágica, os meus olhos não enxergavam tudo o que eles viam. O glamour virava em torno de: imaginem viajar por tudo o Brasil; Não ter rotina; conhecer lugares diferentes a cada dia... De fato parece um tanto quanto mágico, mas não me encantava tanto assim. Uma cabine que para as crianças mais parece um painel de uma nave espacial; O privilégio de olhar a todos do alto; e até mesmo – ainda que isso possa alimentar um pouquinho a nossa vaidade – se achar dono da estrada. Por mais “belo” que tudo aquilo pudesse “ser”, eu viajei pouco e brinquei pouco no volante da velha Scania 111 (jacaré laranjão).
De uns anos pra cá tenho refletido sobre tudo isso. Meu avô era caminhoneiro, meu pai é, porém, tanto eu quanto meu irmão nunca fomos muito apegados a toda essa função. Na data de 25 de julho, dia do motorista, me emocionei ao ler um caderno no jornal que falava da vida de motoristas. De poder ver traduzido ali, histórias que por mais diferentes, muito se assemelhavam com as vividas por meu pai, por mim e todos de minha casa. Me emocionei ao cumprimentá-lo pelo dia de sua profissão, enquanto ao fundo, ouvia-se as buzinas de caminhoneiros que desfilavam na procissão motorizada em homenagem a São Cristovam – padroeiro dos motoristas.
Querer ser como meu pai. De fato eu quero sim! Não, não quero ser caminhoneiro, mas quero ser como ele! Ser uma pessoa feliz, que por onde passa irradia a sua alegria; por onde anda agrada um e outro; por onde se encontra movimenta um grupo de pessoas e sem que aquilo seja forçado e torna-se facilmente o centro das atenções. Um marido amoroso e um pai afetuoso, ainda que com poucas palavras, mas com um olhar que diz tudo. Uma pessoa querida por todos, de bem com a vida, temente a Deus, e que deixa como legado, não o caminhão, e sim a postura de um gigante das estradas. Postura de integridade que nos permite a cada dia andar de cabeça erguida. Postura de luta, que mesmo em tempos de crise no transporte de cargas – com roubo de caminhão em 1999, doença da vó Nica durante alguns anos e outras coisas mais – deu a seus dois filhos a benção de se formarem no ensino superior - eu inclusive em universidade paga. (Acho até que isso é meio piegas, tudo bem)
Não ganhei o caminhão do meu pai pra trabalhar, mas recebi a orientação e a educação para ter a minha própria profissão. E com tudo isso, poder ver meu pai emocionado, comemorando comigo cada passo dado e cada vitória alcançada, como diria o mastercard: não tem preço.
Talvez o único ranço que tenha ficado dessa história toda é quando eu estou dirigindo e o motorista profissional está ao meu lado. O que tenho pra dizer sobre isso é que: como co-piloto ele é um ótimo, excelente e magnífico PAI.
Senhor Deus, obrigado por me dares Glauber Jeske Decker como pai.